O CONSELHO JUVENIL É UM PROJETO DA VARA DA INFÂNCIA DA JUVENTUDE E DO IDOSO DE TERESÓPOLIS (RJ) , EM PARCERIA COM ESCOLAS PÚBLICAS E PARTICULARES .

domingo, 22 de agosto de 2010

GRÊMIOS LEGAIS!



GRÊMIOS LEGAIS
Denilson Cardoso de Araújo

SEXTA-FEIRA, 20/08. UM DIA PARA SER CATALOGADO NOS PRECIOSOS ARQUIVOS DESSE INCANSÁVEL PRESERVADOR DA MEMÓRIA TERESOPOLITANA, Wanderley Peres. Depois de dias gélidos, sol lá fora, e o céu, de um azul impecável, digno dos pincéis de um Michalka. Mais de 60 estudantes que podiam azarar no shopping ou se esquentar na praça, estavam no auditório da Vara da Infância e da Juventude. Crachás no peito, atenção constante, olhos fixos e ouvidos atentos no “Treinamento Pró-Grêmios”, organizado pelo Conselho Juvenil.

AO CENTRO DA MESA, ANA CLARA PEDROSA, PRESIDENTE DO COLEGIADO. À sua direita um senhor calvo e sorridente, José Luiz, presidente e fundador de grêmio estudantil no Rio de Janeiro nos duros anos 1970. Para o merecido orgulho da família, devo registrar que se trata do pai de Ana Clara. Do outro lado, Francisco Santana, pedagogo, ex-presidente do grêmio do CIA José Francisco Lippi. Passou por lá, o Prof. Alfredo Bittencourt, de valiosa experiência nos “dois lados do balcão”: ex-presidente de grêmio em Niterói e ex-diretor do Beatriz Silva.

ELES PALESTRARAM E DEBATERAM COM ESTUDANTES MOBILIZADOS PELA “2ª BLITZ NAS ESCOLAS”, PROMOVIDA PELO CONSELHO JUVENIL, EM CUMPRIMENTO ÀS DECISÕES DO I CONEST (Congresso Estudantil de Teresópolis). Realizava-se uma etapa sonhada desde o Projeto Escola da Paz, em que a Vara da Infância, após percorrer diversas escolas explicando o ECA para estudantes, professores e pais, e alertando para a grave crise de indisciplina, bullying e violência, concluiu ser imprescindível que os próprios estudantes tomassem nas mãos as rédeas do problema, mudando de postura, se tornando pilotos de seus destinos. E isso, conforme garantem a Constituição Federal, o ECA, a Lei de Diretrizes e Bases, e a Lei dos Grêmios Livres, se dá de forma mais nobre pela organização de entidades estudantis.

ASSIM ENTENDERAM OS JOVENS QUE LÁ ESTIVERAM. HOUVE RISADAS, SORTEIOS, BRINDES, DEBATES ACALORADOS, BELAS HISTÓRIAS, APRENDIZADO, LANCHE, PRECE, DISTRIBUIÇÃO DE CARTILHAS. E ALEGRIA! Foi muito bacana ver a alegria dos jovens pelo que, juntos, estavam realizando. Sim, porque havia jovens de escolas particulares, de famílias melhor posicionadas, confraternizando com jovens de escolas de regiões muito carentes. Garotos de 14 anos e adolescentes de 18. Mas ali, todos se irmanaram numa comunidade positiva que demonstra que, com estímulos corretos, jovens podem, sim, mudar sua própria realidade.

EM DADO MOMENTO, QUANDO OCORRIA UMA DAS ANIMADÍSSIMAS DINÂMICAS COMANDADAS PELOS CONSELHEIROS JUVENIS, eu estava à mesa, com os palestrantes, e observávamos talvez o mais jovem de todos, Miguel, do Colégio Helena de Paula Tavares, comandando seu grupo com um entusiasmo que nos comoveu, a nós, militantes velhos de guerra, porque observávamos uma real possibilidade de líder nascendo bem à nossa frente.

DEPOIS QUE O PROF. ALFREDO FEZ SUA FALA, ME VEIO O ESTALO E ALERTEI AOS JOVENS PRESENTES: “Aqui estão 03 gerações de militantes estudantis. Os que enfrentaram a ditadura, os que reconstruíram os grêmios e os que ajudaram a derrubar um presidente. Eles aqui vieram para passar a vocês a tocha com a chama sagrada que eles tão bem mantiveram acesa. A chama da luta pelas melhorias não só da condição estudantil ou da juventude, mas da melhoria da sociedade.” E nos comovemos novamente. Porque a impressão clara foi a de que os jovens querem assumir esse compromisso.

POR ISSO, INFELIZMENTE, NÃO POSSO ENCERRAR ESSA CRÔNICA SEM O LAMENTO PELOS QUE PARECEM NÃO TEREM COMPREENDIDO A PROPOSTA. Os que, sei lá eu por qual antipatia específica por mim, pela Vara da Infância e da Juventude, ou pela Drª. Inês, acabam por prejudicar os alunos em seus anseios (e necessidades). Soubemos de escolas que desestimularam, escolas que já “determinaram” que não querem grêmios, escolas que ameaçaram punir estudantes.

HOUVE O CASO DA POSIÇÃO LEVADA PELA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO MUNICÍPIO, NA AUDIÊNCIA DE 06/08, DE QUE SERIA MELHOR OS GRÊMIOS NÃO ACONTECEREM NAS ESCOLAS MUNICIPAIS, pois cuidam do ensino fundamental, e por isso, não teriam alunos já maduros para a experiência. Na ocasião, conversando à mesa da reunião com a Profª. Magaly, entendemos ambos, e externamos, que poderiam ser aproveitados os representantes de alunos já eleitos em outras atividades das unidades. Da mesma forma, como o Conselho Juvenil prevê a organização de “entidades estudantis”, não seria determinante que o estímulo os levasse diretamente aos grêmios. Poderiam ser organizadas quaisquer associações, conselhos, coletivos que os estudantes desejassem, como passo intermediário. O importante é garantir o direito constitucional e legal, de autoorganização dos estudantes. Infelizmente foi baixa a presença de escolas do Município ao treinamento. Inclusive parceiras, que se socorreram na Vara da Infância em momentos difíceis, mas que agora, debelados alguns incêndios, deixam de lado a prevenção proposta, com quem abandona a colocação de extintores.

É URGENTE ENTENDER O VÁCUO ENTRE GERAÇÕES QUE FAZ COM QUE ESTUDANTES DE HOJE NÃO CONSIGAM SE ORGANIZAR SEM QUE HAJA INCENTIVO, E - MAIS AINDA - APRENDIZADO. Por isso, o treinamento. Para que saibam que podem se organizar e devem ter compromisso, respeito e diálogo com direções e autoridades; ser bons alunos, antes de bons gremistas e priorizar discussões e atividades realmente relevantes. Foi isso que aprenderam de militantes experientes e responsáveis, os que foram ao treinamento na Vara da Infância. Estudantes organizados e treinados não são problema. São solução!

QUE NÃO HAJA DÚVIDAS OU RECEIOS. Há uma lógica em curso, neste trabalho da Vara da Infância. Detectados problemas em 2006, começamos a ir às escolas em 2007 e 2008, para séries de palestras. Dra. Inês promoveu seminários sobre “bullying” e sobre o ECA. Professores e administradores ficaram, no geral, melhor esclarecidos e fortalecidos em suas posições. Não é justo que agora, quando chega a vez dos alunos, sejam boicotados por receios injustificados. O que eu vi em algumas escolas, alunos indisciplinados, desrespeitosos, alguns quase rebelados, não vai acabar só porque adultos desejam. Vai acabar quando houver efetivo protagonismo (orientado, sempre!) dos adolescentes. Talvez a alguns incomode estar a Vara da Infância à frente desse Projeto. Mas o fato é que, mais uma vez, foi a Drª Inês quem deu o pontapé inicial. Parece, em Teresópolis, ter virado moda pouco saudável e nada democrática desrespeitar essa Juíza de histórico tão importante. Certos setores colocaram-na, injustamente, absurdamente, kafkianamente, como causa dos problemas na proteção à infância e à juventude!

ASSIM FOI NA OCASIÃO DO ACORDO QUE ELA PROPÔS PARA A PAULATINA MUNICIPALIZAÇÃO DE MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS (assunto só em pauta nesta semana, porque Drª Inês deu o pontapé inicial). Foi chamada de “ilegal”, sem qualquer reparo conhecido às declarações grosseiras e infelizes. Que injustiça assim não aconteça nessa questão dos estudantes. Grêmios, além de “legais”, são bacanas, são indispensáveis.

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coluna a ser publicada no Diário de Teresópolis, em 24/08/10

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