Denilson Cardoso de Araújo
BOAS NOTÍCIAS NO DIÁRIO DE DOMINGO, 11/09. A ESCOLA ESTADUAL “CIA JOSÉ FRANCISCO LIPPI GANHA PRÊMIO NACIONAL”. Esta era a matéria assinada pela competência de Joanna Medeiros. Trazia a descrição desse quase paraíso pedagógico. Estive lá com a “Blitz nas Escolas 2, do Conselho Juvenil”. Escola muito especial onde, numa área de 20 hectares, existe um complexo de ensino que envolve salas de aula rasas, distribuídas em 14 pavilhões cercados de verde, hortas, lagos, criadouros de peixes, minhocas, etc. Um caminho oferece aos professores aulas ao ar livre caminhando em segmentos, por debaixo de portais elaborados conforme a arquitetura dos períodos da história pátria. A árvore de pau-basil faz as honras da entrada.
Ali, sente-se um entusiasmo. Um professor de história dava uma aula tão envolvente que presenciamos o mesmo descrevendo algum evento importante, chegou a sair porta afora falando do pátio e retornando subitamente, numa ênfase teatral que fascinava estudantes.
A Diretora Marlene Cupertino não esconde sua paixão. Capaz de lágrimas quando refere a escola, sua história e função social. Paixão que vira garra de leoa, na defesa dos direitos dos alunos, ousadia e coragem na sempre recorrente questão do transporte dos adolescentes (infelizmente, o bilhete eletrônico continua causando confusão).
De todas as escolas às quais o Conselho Juvenil compareceu, o CIA causou o maior impacto aos Conselheiros. A reunião dos alunos para ouvi-los, fez-se em menos de 10 minutos. O papel social da escola na comunidade também foi visto. A conexão entre a região onde instalado, e a divulgação de conhecimento agrícolas, fez ver a importância lógica de criar-se sentido para o ensino. O papel de vanguarda da unidade como formadora de cidadania e apoiador da comunidade viu-se na cessão de espaço para uma sede de associação comunitária (infelizmente não aproveitada). Ao fim das contas, todos os Conselheiros queriam estudar lá. No ônibus, viemos debatendo como seria bacana se todas as escolas tivessem condições similares.
Mas o melhor de tudo foi quando chegamos ao treinamento pró-grêmio, acontecido em duas etapas, na Vara da Infância e da Juventude. Primeiro diga-se que o Prof. Francisco foi um dos palestrantes, ele que presidiu o Grêmio daquela escola, quando aluno. Depois, registramos a participação séria e interessada dos alunos da unidade, e sua disposição de refundar o Grêmio da escola, entendendo a importância do papel da autoorganização estudantil na melhoria das condições do ensino. Lá, em que elas já são boas, serão melhores!
Por isso, o prêmio recebido da UNESCO pela escola, faz uma justiça muito bacana e merecida a um empenho e a uma história únicas em Teresópolis. Parabéns, alunos, professores, diretoras Marlene e Katiuscia e a todo o corpo administrativo!
CESO - PEDALANDO POR CIDADANIA – Outra notícia boa, em matéria da não menos capaz Isadora Jaron. O CESO realizou no domingo a sua “1ª Pedalada”! Os professores de educação física, André de Freitas e Carmem Lucia Quintana reuniram os alunos no passeio ciclístico que saiu da Praça Olímpica. O domingo de sol lindo recepcionou os valentes ciclistas. O objetivo era unir a família, que, conforme palavras do Prof. André, se encontra dispersa, cada um indo para um canto, o filho no videogame, outro na TV, o pai no futebol, a mãe na cozinha. Ao mesmo tempo, pretendiam batalhar pela inexistente ciclovia, tão essencial.
O prof. André na manhã de ontem (13/09), não escondia o entusiasmo pelos resultados alcançados. Mais de 100 pessoas participaram, várias em família, realmente, como pretendido. Organizaram-se dois circuitos. O mais amplo, ia da Praça Olímpica à Casa e Vídeo. Um menorzinho, centrou-se na Praça, ali circulando até velocípedes!
Uma iniciativa assim deve orgulhar a escola, porque soma na mesma direção do que já falamos da CIA José Francisco Lippi. Uma escola viva, diferenciada, participativa e agente de mudança social. Não dá pra escola se fechar em seus próprios muros achando que assim encontrará melhores condições de ambiência e ensino. Existe uma crise de sentido hoje, do sistema educacional. Estudar para quê? A escola tem utilidade real, em tempos de google, desemprego e bullying? Para superar essa crise de sentido e identidade, a escola precisa renovar-se e, acima de tudo, fazer a diferença na comunidade em que se encontra. O ensino em sala de aula, agregado à atividade comunitária e social é imperativo, mais do que nunca.
Dá mais trabalho a direções e professores? Claro que sim! Perguntem ao Prof. André, à Profa. Carmem e à Diretora, Graça Medeiros. Mas o fato é que o trabalho intra-muros fica mais facilitado porque a Escola passa a ser vista como o “clube” do coração, ao qual se serve porque se ama. Torcedores do Flamengo não destroem a Gávea. Alunos apaixonados pela escola não destroem o lugar mais bacana que podem freqüentar. O CESO, aliás, já tinha aquela iniciativa bonita de pintar os muros. Cercado por coloridas obras feitas pelos alunos, em mutirões similares à pedalada, estão lá, intactos muros, respeitados por grafiteiros e até pixadores!
Parabéns CESO, professores, alunos, pais que participaram (pais participantes já daria toda uma crônica!), e à Graça que dirige a escola com o melhor do seu coração.
Mas, não poderia deixar de registrar que o CESO tem sido uma escola atuante na questão do Conselho Juvenil e dos Grêmios. Foi a que mais mandou alunos para o treinamento pró-grêmios que realizamos na Vara da Infância.
CONCLUSÃO - ESCOLA BACANA TEM GRÊMIO – Como vimos dos exemplos acima, as escolas se destacaram em prêmios e realizações. Agora se destacam na busca pelos grêmios! Coincidência? Claro que não! Escola boa não teme seu aluno. Escola que quer crescimento sabe que ele só virá se o aluno tiver oportunidade de realizar seu potencial. Inclusive exercendo autoorganização. Por isso, lembro a todos que 20/09, segunda-feira, é dia de organizar os Grêmios. Quem não puder tanto, se organize em associação pró-grêmios ou conselho de alunos. O importante é fazer valer o direito constitucional de autoorganização, garantido também em lei federal. Tem sido esta a proposta do Conselho Juvenil, em obediência às resolução do 1º CONEST (Congresso Estudantil de Teresópolis), realizado em junho último.
DEDO DE DEUS NOS ALPES – Outra notícia bacana do jornal de domingo dá conta da participação do excelente documentário “Caminho Teixeira” - que conta a história da conquista do Dedo de Deus pelos heróicos “minhocas da terra”, em 1912 – no Festival de Filmes de Montanha na Áustria, em outubro. O filme, apoiado pela operosa Secretaria de Cultura, dirigida por Wanderley Peres, merece a honraria, que leva Teresópolis, literalmente, aos pontos mais altos da Europa. Parabéns!
ELEIÇÕES – A ascensão do Partido dos Trabalhadores ao governo da República, onde passou a trabalhar com o programa da social-democracia de FHC, foi um golpe nas aspirações acumuladas em penosas lutas de trabalhadores brasileiros, por décadas de militância. Sou da época em que pintávamos nossas próprias bandeiras em morim comprado de vaquinha e fabricávamos em papelão com guache nossa estrelinha pra botar no peito. Joguei minha estrela fora há mais de 10 anos, quando o PT se tornou esse “PSDT” que aí está. Essa mutação (que, de resto, não é muito diferente da que ocorreu com os antigos partidos de trabalhadores europeus) foi fatal para consolidar no Brasil uma espécie de clientelismo de esquerda. O movimento sindical passou a funcionar como braço auxiliar do governo, à moda do getulismo. Pergunte a trabalhadores de base como tem sido a postura de governo e direções durante as greves. A quantidade de ex-sindicalistas que hoje repete, no governo, o discurso patronal, é um escândalo. As doenças profissionais se tornaram corriqueiras. A superexploração do trabalho, idem. As organizações que poderiam protestar estão em mãos para-governamentais. Isso provoca essa campanha morna, chocha, onde se discute mais do mesmo, e da qual os jovens se afastaram e cabos eleitorais (todos pagos, agora) se ressentem da rejeição aos panfletos que distribuem e que acabam indo parar no lixo com muito mais rapidez do que antes. O clientelismo vence. O Bolsa Família consolida um peronismo moreno. Houve mudanças? Claro que sim. São positivas? Evidente. Mas quando se podia trazer a Copa do Mundo, conquistar o Torneio Rio-São Paulo é muito pouco. Por isso, acho importante que um crítico como Fred Maia tenha também, retornado ao Diário de domingo, quem sabe para melhor ajudar a destrinchar os efeitos desta realidade em nível municipal.
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coluna a sair no Diário de Teresópolis em 14/09/10
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