O CONSELHO JUVENIL É UM PROJETO DA VARA DA INFÂNCIA DA JUVENTUDE E DO IDOSO DE TERESÓPOLIS (RJ) , EM PARCERIA COM ESCOLAS PÚBLICAS E PARTICULARES .

terça-feira, 29 de março de 2011

GRÊMIOS X BULLYING



BULLYING MATA. Pode matar seu filho. Mas seu filho pode também ser o assassino! Professor, seu aluno pode aparecer enforcado no quarto! Mas pode ser também o que amarrou a corda! Porque bullying mata. Pode matar no seu filho o futuro. Fazer nessa sua esperança encarnada e bonita um zé ninguém que vestiu a falsa carapuça do bullying covarde. Porque, bullying: mata.

Seu filho pode amanhã espancar mulheres, porque assim percebeu ser a vida, de dentro do cárcere do bullying. Este, que pode tornar sua filha uma inválida sexual, porque amanheceu currada num banheiro de escola. E você não percebeu... Que... bullying? Mata! Pode impor na alma de seu filho os tremores que farão o adulto inseguro e inútil de amanhã, porque...

Meus Deus, você não percebeu! Por quê? Bullying mata! E mata endemicamente, porque epidemias são, as agressões que correm nos cantos obscuros das escolas, nos corredores desavisados, nas esquinas desprotegidas, pela cidade afora, pelo país afora, pelo mundo inteiro! Uma praga mundial. De Teresópolis a Virginia Tech, bullying mata. Com a faca-palavra, com o apelido cruel, com a humilhação dos empurrões que viram abuso. Com a faca real que matou semana passada numa porta de escola mineira. Com o bate estacas humano que a vítima de bullying em Portugal fez do menino agressor, num revide prestes ao fatal.

E bullying dá no aluno humilhado aquela febre matinal que faz perder aula, perder amigos, perder notas, perder o ano. E você não percebeu! Amigo! Bullying mata! Porque faz o ameaçado se sentir um nada que precisa pedir constante licença para respirar, pagar inexistentes dívidas eternas ao universo opressor.

Bullying mata. Porque mata um país que permitiu nas antes sagradas escolas o estabelecimento dos criadouros de cruéis garotos pit-boys e valentonas meninas galinhas de briga. Bullying mata porque quando expor na Internet brigas ridículas mas assassinas se torna uma forma de ser “da turma”, de pertencer a algo, de estar em clubes da luta de subúrbio, em lugares obscuros freqüentados por ridículos brad pitts atormentados de pobreza ou desesperança; quando ser esse “não-ser” vira a regra, significa que um tsunami moral já devasta os corações e mentes de nossos jovens, abrindo-lhes o peito e arrancando seu coração para atirá-lo num buraco imundo de lamaçal onde chafurda a ética, como uma virgem estuprada e incendiada, ali onde queimam os sonhos de uma geração sacrificada pela nossa inoperância, pela nossa errância, pela nossa incompetência... Pelo nosso medo de ensinar nossos jovens a não terem medo.

Porque eles têm medo, você não percebeu? Não venha amanhã me dizer que não viu os sinais, as sombras, os soluços no escuro, os avisos, o olho vidrado, a lágrima de pedra, tantas tantas evidências... E você não percebeu... E agora, à beira dessa cova triste, atira essa flor inútil naquele caixão encerado onde vai uma vítima, seu filho, cujo silêncio grita que: Bullying mata!!!

MAS GRÊMIO ESTUDANTIL SALVA. Não, não exagero. Porque não falo de grêmios porcarias, inúteis, de papel, brinquedo de despreparados. Falo de grêmios treinados, preparados, conscientes, aliados a outras atitudes positivas da escola, como quer a proposta do Conselho Juvenil. E, sendo assim, falo sem medo: grêmio salva! Porque estudantes associados podem direcionar energias em semeaduras positivas. Professores inteligentes perceberão como é bom apoiar alunos na descoberta da cidadania primeira, que é a cidadania escolar. Porque alunos cidadãos aprendem a cuidar um do outro, e todos juntos, de tudo. Porque dessas incubadeiras vem lideranças sadias.

Grêmio salva. Porque deles virão inconformados do bem, incomodados com o mal, que não se enforcarão, nem agredirão inocentes, mas aprenderão compromisso e responsabilidade com o outro, ainda que “diferente” seja esse outro, ainda que negro, ainda que magro, ainda que obeso, ainda que cego. Grêmio salva. Porque as regras de uma reunião, a organização de movimentos, a sadia reivindicação ensinam convívio, limites, solidariedade. Grêmio salva. Porque ao invés de tristes brigas trágicas os alunos demonstrarão na Internet suas assembléias, seus debates, suas realizações. Porque alunos que se fortalecem no coletivo e na solidariedade não enfrentarão o mundo com o medo da derrota antecipada. Grêmio salva. Porque grêmio sadio não cria vítimas obscuras, mas produz saúde moral na mente e luz de alegria no coração.

O QUE VOCÊ ESCOLHE? Secretária, Diretores, Coordenadores, Professores, Pais... Alunos! O que escolheremos nós, hoje e agora? Nós, os que percebemos o aumento dos movimentos do oceano revolto nas balsas de medição, o sacode maior nas bóias que guardam sensores desse mar de ameaças, nós podemos avisar que elas tremem mais do que o normal. Sinais dos terremotos no fundo do coração dessa geração de sexo, drogas e Big Brother. Nós percebemos. Vivemos mais. Podemos ajudar a impedir a desgraça do tsunami. Ajudar a remover adolescentes dos banheiros e corredores da violência para as praças iluminadas das assembléias estudantis que construirão a esperança.

Mas, como a solução é a possibilidade de grêmios “perigosos”, de gremistas “irresponsáveis”, de reivindicações “malucas”, muitos preferem deixar tudo como está. Amanhã, contaremos os mortos. Mortos físicos, mortos psicológicos, mortos morais... mortos. Porque hoje preferimos esconder casos, mascarar realidades, avestruzes deixando aumentar problema. Famílias em romarias, trocando filhos de escola e a cada mudança ajudando a matar mais a autoestima daquele menino com o qual não sabemos lidar, porque não ousamos enfrentar as escolas que não ousaram enfrentar a realidade cruel que machucou o menino.

BULLYING MATA. Ah, mas esse negócio de grêmio oferece riscos... Transplante também, mas sem ele não se vence a doença. Atravessar mares desconhecidos também, mas sem Colombos não há Novo Mundo. Sair à rua para o trabalho dá risco de bala, risco de buraco, risco de briga, risco de carro desembestado, mas sem rua não se vai ao ganha-pão.

Mas entre os riscos do grêmio (que os há, se não ajudarmos os jovens analfabetos de mobilização, como querem fazer o Conselho Juvenil e a Vara da Infância) e a morte certa do bullying, escolho os grêmios. Não, eles não são o paraíso. Mas certamente, afastam do inferno. Já é muito.

.o.o.o.

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