No movimento popular, sindical ou estudantil, existem regras básicas que nunca podem ser violadas, sob pena de fazer as coisas andar para trás.
Hoje houve uma violação de algumas regras, pelo Grêmio do Higino, basicamente por inexperiência organizativa.
Ontem à noite houve um acordo, firmado com a direção do Grêmio Beta, a direção da Escola, com a presença e testemunho do Conselho Juvenil e das mães de dois alunos gremistas (Lucas e Tiago). Pelo acordo, após o reconhecimento da precipitação do chamamento à greve de alunos, os gremistas decidiram propor que a manifestação consistisse em: --chamamento e esclarecimento na entrada do turno, às 07:30 hs; --manifestação no recreio, com 01 minuto de silêncio e 01 minuto de barulho; --falações e apoio aos professores em greve. Isso virou acordo com a direção da Escola. Uma das condições era que o grêmio, dado chamamento equivocado para uma greve, tivesse postura muito ativa para redirecionar os ânimos para o proposto/acordado.
O acordo não foi cumprido. Tudo correu bem na manifestação interna que ocorreu um pouco após o recreio. A própria Profª. Adriana, Diretora da Escola, fez uma fala em apoio ao movimento. Frente a alegações de que tinha havido intimidação na reunião, inclusive por parte do CJ e do Coordenador do Projeto, a Diretora leu a ata onde isso era desmentido. Até aí, tudo ok. Entretanto, as coisas se tornaram graves, quando o Grêmio encerra sua participação com a seguinte fala (assim descrita pelos próprios gremistas): "Bom, nós do Grêmio vamos agora com os professores em caminhada até o Estadual. Quem quiser vai com a gente!". Esta última frase foi o descumprimento do acordo. Fez-se a confusão. Os alunos, anteriormente mobilizados até para uma "greve", se animaram à caminhada. As cadernetas, na confusão, acabaram entregues, sem que houvesse autorização formal da Direção. E a caminhada seguiu até o Estadual. Na hora em que cheguei (praticamente no momento em que a caminhada chegava a seu destino) havia cerca de 50 a 60 pessoas, dentre alunos e professores.
Problema: A Coordenadoria Serrana recebeu queixas de pais de alunos. A Diretora Adriana foi chamada às falas, para explicar-se. Pais reclamaram da ocorrência. Professores não aderentes à greve se queixaram.
Fui para o local. Lá questionei os integrantes do Grêmio sobre o descumprimento do acordo, sobre supostas agressões verbais que me teriam sido feitas, e acusações ao Conselho Juvenil. Após acalorados debates, parece que a maioria da direção do Grêmio compreendeu ser positivo - como de fato é - que se tenham mobilizado, mas o equívoco que o tenham feito da forma errada, descumprindo acordo..
Inclusive perceberam o segundo equívoco, que foi o de romper com a Direção da Escola, que apoiou o Grêmio, foi parceira de primeira hora do Conselho Juvenil e, como dissemos, forneceu o almoço para todos os congressistas do II CONEST. Aliás, diga-se, o próprio Grêmio do Higino, a rigor, existe hoje, em face do movimento de reconstrução dos grêmios, protagonizado pelo CJ desde 2009, a duras penas.
Não se desperdiça aliados importantes. E a Direção do Higino tem sido aliada e parceira. Poderemos até divergir no futuro (aliás, até já divergimos no passado), mas tudo isso se faz com respeito, clareza e transparência. Honrar a palavra empenhada é princípio básico de relacionamentos assim. A Prof. Adriana não é o inimigo, não é ela que paga mal aos professores.
Não podemos aceitar também as queixas e acusações contra o CJ, de que ele teria sido "contra" o Grêmio. O próprio raciocínio é ilógico! Quem cria grêmios não é contra grêmios. Só que o CJ não quer criar e apoiar um grêmio, apenas. Queremos muitos grêmios que, juntos, retomem as possibilidades de um movimento estudantil forte, consciente, politizado e progressista.
Nestas horas, quem avança demais o passo achando que é vanguarda, e que do seu próprio grêmio ou mundo particular pode mudar solitariamente o mundo, e o faz ainda, desorganizadamente, pode atrapalhar o movimento maior, que é o da construção de mais e melhores grêmios e da união entre estes. Ninguém faz lutas importantes sozinhos. A união da categoria estudantil é o fator a ser preservado. Lembremos que ao falarmos do alunado de hoje, estamos falando de alunos que até ontem, estavam no bullying e na zoação pura. Em Teresópolis despertou-se uma consciência positiva, e isso, em grande parte, por força da insistência do trabalho do CJ. Essa força não pode ser desperdiçada.
Quanto à posição do CJ, ele a deixou clara. Num primeiro momento (a postagem está aí, com data de 5ª feira) APOIOU e ELOGIOU o Grêmio do Higino, por sua disposição de mobilizar-se. Depois, sabendo da suposta proposta de paralisação, SUGERIU que não fossem à greve de alunos, por ser uma precipitação. Mais tarde, convidado pela Direção da Escola, participou do ACORDO que fechou uma forma de manifestação útil e possível.
Por isso, temos todo o direito de lamentar o descumprimento do acordo. Pedimos a reflexão. Agradecemos ao pessoal do Grêmio Beta, principalmente ao Nils, à Mariana e ao irmão da Mariana (pela postura na reunião de ontem), que se dispuseram a ouvir-nos sem preconceitos, e reconheceram os equívocos de organização que precisam ser corrigidos. Agradecemos também aos professores do SEPE que apoiaram as manifestações e aconselhamentos que fizemos hoje, em favor da manutenção de acordos e parcerias necessárias, bem como em favor de fazer-se certas caminhadas mais devagar, para que mais longe se avance.
Dito isso, que fique a lição para todos nós. Aprendamos a dar os passos de forma mais coletiva, organizada, pensando não somente na luta de hoje. Quem se precipita na luta de agora, perde a guerra, porque gasta fôlego demais antes da hora.
Nos debates na porta do Higino, alguém disse que uma pedra pode começar uma revolução, como aconteceu na Intifada palestina. É verdade. Mas pode também iniciar uma tragédia desnecessária. Participei e liderei dezenas de greves, várias delas como bancário. Venci muitas, perdi várias. Numa delas a derrota começou com uma pedra atirada na vidraça de uma agência por um manifestante empolgado. Empolgação não constrói bons movimentos. Empolgação pode ser ingrediente (aliás essencial) de movimentos necessária e previamente organizados e bem debatidos.
Não é correto também que os alunos queiram fazer uma luta que é dos professores. A greve deles está em construção. Todo o apoio a essa construção! Mas a luta de solidariedade (a dos alunos) é sempre secundária em relação à luta principal (dos professores). Inclusive, evidentemente, não é ético que professores possam buscar que alunos façam movimento em seu apoio se ainda não conseguiram massificar a sua própria greve. Fazer isso num primeiro momento nem é inteligente do ponto de vista estratégico. Felizmente, não é isso que o pessoal do SEPE, que conheci na porta do Estadual pretende.
Quanto à luta dos alunos, se não for de solidariedade, é de que? Luta direta contra as más condições do ensino brasileiro? Aí, ainda mais, não cabe fazer-se esta luta tão grandiosa a partir da mobilização isolada de um só grêmio.
Na sexta-feira ás 14 hs na Vara da Infância, chamamos reunião com os Grêmios. Esperamos que venham. Inclusive o Grêmio Beta.
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